quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O céu é real

Colton: "Lá em cima tudo é mais brilhante e colorido".

A história do menino americano Colton Burpo que disse ter estado no céu quando ficou em coma depois de uma operação de apendicite virou livro e motivo de polêmica nos programas de TV.
Colton está hoje com 11 anos,  mas foi aos 4 que ele  passou por essa experiência. Os pais dele contam que suas lembranças vieram aos poucos e, entre elas,  Colton citou o encontro que teve com o bisavô por parte de pai que ele nunca conhecera. Descreveu-o como um ser iluminado, de cabelos encaracolados e asas enormes. Disse que ele perguntou por seu pai e contou várias histórias de família.
Outro detalhe considerado impressionante foi quando Colton narrou o momento em que uma menina aproximou-se dele dizendo-se sua irmã. Ela confidenciou ao menino que não chegara a nascer e não tivera um nome na terra, mas que estava muito feliz em conhecê-lo pessoalmente já que o via apenas à distância.
Quando Colton contou essa passagem aos pais, os dois se emocionaram e chegaram a chorar. A mãe do garoto havia realmente perdido um bebê de forma natural, sem nem mesmo saber o sexo,  e combinou com o marido nunca revelar isso a ninguém pois a perda havia doído muito. Portanto, Colton não sabia do ocorrido pois nem era nascido.
É aí que o mistério começa a aumentar.
Depois desses dois momentos,  que  chegaram a abalar as concepções  religiosas da família, Colton  contou outros detalhes intrigantes sobre a viagem que ele descreve como uma ida ao paraíso. Disse que naquele lugar,  onde tudo é mais brilhante e colorido, as pessoas vestem-se com roupas luminosas e vaporosas, não usam óculos e parecem sempre jovens, felizes e sorridentes.
Numa outra lembrança, Colton disse que esteve sentado no colo de Jesus, e este lhe dissera que ele teria a missão de levar uma mensagem de esperança ao mundo. Ao mesmo tempo Colton revelou que ao lado de Jesus estava também João Batista,  que sorriu para ele e o abençoou.
Além de todas essas revelações outras não menos desconcertantes estão no livro de Colton, “Heaven is for real" (O céu é real, em tradução livre), que já virou best-seller desde novembro de 2010 quando foi lançado. Já vendeu quase dois milhões de cópias nos Estados Unidos  e já há pedidos para  ser traduzido em outros idiomas.
Ao divulgar suas lembranças aos pais, Colton não sabia o quanto estaria deixando-os intrigados,  assim como a todas as pessoas que tomaram conhecimento do caso. A midia logo de interessou e Colton foi alvo de  reportagens em sites, jornais, revistas e na TV. Ao ser entrevistado no programa Today, da rede NBC, ele deixou os apresentadores boquiabertos com sua naturalidade ao contar detalhes de sua “viagem”.
Os jornalistas começaram a entrevista entre curiosos e incrédulos,  e acabaram completamente emocionados e convencidos de que Colton estava realmente falando a verdade.  Comentaram que o menino já fora ouvido por especialistas, psicólogos e médicos em geral para uma investigação mais detalhada do assunto. A conclusão foi surpreendente. Nenhum desses profissionais soube dar uma explicação científica sobre o que ocorrera com o menino.
Para deixar as pessoas ainda mais confusas, Colton contou com firmeza que viu, do alto do quarto onde estava sendo operado,  os médicos correndo de um lado para o outro para tentar salvá-lo. Dali ele conseguiu ver também  o pai falando ao telefone celular no corredor do hospital, preocupado e nervoso e  a mãe chorando e  rezando na capela. Segundo os pais de Colton, ele não poderia saber de tudo isso ao mesmo tempo,  pois  ninguém os viu nessa situação naquele momento de desespero quando Colton entrara em coma.
Bem, a história e a polêmica estão lançadas. Nessa viagem ao céu o menino Colton, um pré-adolescente normal, que faz tudo o que um menino da sua idade faz regularmente, disse que trouxe na bagagem uma mensagem de Deus,  principalmente àqueles que perderam seus entes queridos.  Colton afirma sem pestanejar que “ O céu existe e nele as pessoas podem se reencontrar com quem se foi”.
(Artigo de Leila Cordeiro)


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

BIBLIOTECA PÚBLICA CÂMARA CASCUDO

RELATÓRIO

O presente Relatório é fruto de uma visita feita pelo presidente da União Brasileira de Escritores – UBE/RN, escritor Eduardo Gosson, à Biblioteca Pública Câmara Cascudo, na manhã do dia 23 de setembro de 2011, com a finalidade de diagnosticar a situação desta instituição. Fomos recebidos pelo diretor, senhor Márcio Rodrigues Farias, que nos relatou a situação:

 1. RECURSOS HUMANOS
. .A Biblioteca-mãe do sistema conta com 20 vagas para o cargo de bibliotecários, onde atualmente somente 04 profissionais estão ativos. Precisa de 15 novos bibliotecários para atender a demanda;
. No momento não dispõe de nenhum funcionário para fazer o serviço de limpeza e manutenção.

2. INFRAESTRUTURA
. O prédio encontra-se com infiltrações generalizadas, rachaduras e com ferrugem em todo o sistema elétrico, ocasionando o fechamento à noite;
. Não há extintores contra incêndio na instituição.

3. ACERVO
. O Acervo é composto de 94.000 livros;
. Encontra-se sem manutenção devido à falta de pessoal de limpeza;
. O acervo de Autores Potiguares é pouco devido as doações dos nossos escritores serem mínimas.
. A Biblioteca dispõe de um site www.bpcamaracascudo.webnode.com.br

04 . PERSPECTIVAS
Há no Minc um projeto de revitalização no valor de um milhão e meio (90% concluído) aguardando sua aprovação.

Natal/RN, 23 de setembro de 2011

EDUARDO ANTONIO GOSSON

Presidente da UBE/RN





sexta-feira, 7 de outubro de 2011

                                         
 

    AUSENTES
                   

    No futuro, como lamento desconhecer a hora,
    Estaremos misteriosamente ausentes um do outro.
    Não disporás das pernas estendidas pousadas na cadeira
    Leito eventual onde recolhes amizade preguiçosa.
    Também a fadiga abraçada às  pernas pelo tempo
    Inexistirá aos pelos nas cores do ouro velho ou prateada.


 QUANDO PRESENTE

                                     Jansen Leiros

(respondendo ao amigo Ciro José, face ao poema Ausência)

Desculpe-me navegar nas mesmas águas
É que eu também, a eles, me afinei
Pois quando chego,  a qualquer momento
Eis que  me lambem, pois há muito os afaguei.

Nossa raposa, de dourada, quase loura
Tem o carisma próprio do Yorkshire
Conquista com doçura,  a quem lhe agrade
Adora ser notada e nunca para.

Ele é também, é um doce prateado
E como ela, ele adora ser olhado
E eu aos dois, os amo, ontem e sempre.
Pois “cachorreiro” eterno, do passado.




     

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Inauguração do Grupo Escolar de Macaíba

Caro Jansen

só agora de manhã pude ler tudo que me enviou. Que tesouro! Quantas informações para as novas gerações! Não posso esconder a surpresa que tive ao ver que você citou minha crônica escrita e publicada no jornal Navegos há mais de uma década. Ser citado por você me deixa bem orgulhoso! Obrigado! De fato, o povo daí é maravilhoso! Estarei unido a você e aos que vão festejar o centenário no dia 19. É uma ocasião muito especial para todos. Espero que a imprensa do Rio Grande do Norte dê a devida atenção a isso.

Grande abraço,

Fabiano

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Milagre em Brasília...
 
O deputado federal José Antonio Reguffe (PDT-DF), que foi proporcionalmente o mais bem votado do país com 266.465 votos, com 18,95% dos votos válidos do DF, estreou na Câmara dos Deputados fazendo barulho. De uma tacada só, protocolou vários ofícios na Diretoria-Geral da Casa.

Abriu mão dos salários extras que os parlamentares recebem (14° e 15° salários), reduziu sua verba de gabinete e o número de assessores a que teria direito, de 25 para apenas 9. E tudo em caráter irrevogável, nem se ele quiser poderá voltar atrás. Além disso, reduziu em mais de 80% a cota interna do gabinete, o chamado “cotão”. Dos R$ 23.030 a que teria direito por mês, reduziu para apenas R$ 4.600.
Segundo os ofícios, abriu mão também de toda verba indenizatória, de toda cota de passagens aéreas e do auxílio-moradia, tudo também em caráter irrevogável. Sozinho, vai economizar aos cofres públicos mais de R$ 2,3 milhões (isso mesmo R$ 2.300,000) nos quatro anos de mandato. Se os outros 512 deputados seguissem o seu exemplo, a economia aos cofres públicos seria superior a R$ 1,2 bilhão.
“A tese que defendo e que pratico é a de que um mandato parlamentar pode ser de qualidade custando bem menos para o contribuinte do que custa hoje. Esses gastos excessivos são um desrespeito ao contribuinte. Estou fazendo a minha parte e honrando o compromisso que assumi com meus eleitores”, afirmou Reguffe em discurso no plenário.

Quantos Tiriricas, Popós, Romarios, e os outros muitos "parasitas" poderiam seguir este exemplo????

 
Repasse  a quem você puder, pois a dignidade deste Sr. José Antonio Reguffe é respeitável, louvável e exemplar, senão diria, atitude raríssima no nosso meio político!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

ALMB

ACADEMIA DE LETRAS MUNICIPAIS DO BRASIL



SECSIONAL DE MACAÍBA ( RN )

ACADEMICO - JANSEN LEIROS FERREIRA

PATRONESSE – AUTA HENRIQUETA DE SOUZA



ELOGIO À PATRONESSE:



AUTA DE SOUZA EXPRESSÃO MAIOR DO LIRISMO POTIGUAR



Nos idos de 1955, chegará a Natal para proferir duas palestras, a convite da Federação Espírita do RN, o jovem baiano Prof. Divaldo Pereira Franco.

Por ser macaibense, fui destituindo para à acompanhá-lo à princesa do Jundiaí, um passeio pretendido e ansiado. O jovem orador, então com 25 anos, desejava conhecer o famoso jasmineiro do qual tanto lhe falava a amiga Auta de Souza.

Durante o trajeto, Natal-Macaíba, Divaldo discorreu sobre a grande poetisa norte rio-grandense, estando o retrato espiritual, ele que já era a glória da poesia feminina brasileira e, segundo ele, espírito de escol areolado pela luz da sabedoria e da bondade.

Visitamos o jasmineiro e lá, pudemos sentir a presença luminosa da dulcíssima através dos jasmins que Divaldo colheu com certa emoção.

Ali, comecei a conhecer minha doce conterrânea. Por embatia, a ela me afeiçoei degustando seus lirismos em cada verso. Enamorei-me dela na fluidez de sua poesia.

Na infância, estudara no Grupo Escolar “Auta de Souza” quando o prédio que fora à Casa Nova da Rua do Comércio ainda não havia sido criminosamente derrubado – fruto da implosão de sentimentos mesquinhos. Visão míope de dirigentes aculturados e medíocres. Fora ali, naquele casarão de enormes janelas, que nasceu a expressão máxima do lirismo da terra de Poty, a 12 de setembro de 1876.

No centenário de seu nascimento, de maneira surpreendente, fomos, Waldemar Matoso e eu, levado a receber e aceitar a incumbência de, com alguns amigos, orientar e dirigir uma casa de crianças abandonadas, nesta terra de grandes vultos.

Ao recebermos e legalizarmos a instituição pusemos esse nome: Fundação Lar Celeste “Auta de Souza”.

Em 1984, a Academia de Letras Municipais do Brasil, com sede em São Paulo, nos contemplou com a inclusão de nosso nome em seu quadro social, conferindo-nos o título de ACADÊMICO e o alvitre escolha de um patrono conterrâneo para a cadeira representativa, naquela Casa de Cultura. Não tivemos dúvidas. Auta foi à escolhida. É a patronesse da cadeira municipal. Reforçavam-se nossos laços.

De repente, somos agradecidos com honroso convite para proferir palestras sobre a decantada poeta do sofrimento, de quem tanto nos ufanamos, e aqui estamos felizes, gratificados, cheios de honrarias que nos provocam timidez, mas que sobre tudo nos deixam desejoso de plantar no espírito de cada convite a semente do amor, do respeito e da admiração por esse anjo tutelar que enleva que os corações humanos no cadenciar nostálgico de seus poemas.

Na matriz de Nossa Senhora da Conceição, numa das colunas da Nave principal, encontra-se seu ossário, onde lhe dedicaram o epitáfio: “Longe da mágoa, enfim, no Céu repousa Quem sofreu muito e quem amou demais”.

“A Auta de Souza conhecida era como um perfume de novena trazido num sopro de familiaridade lírica. Menina e moça, levada de casa para o colégio em versos. Plantou um jasmineiro e deixou um livro de saudades que é o Cancioneiro Geral das nossas tristezas”. Assim se expressou Edgar Barbosa no prefácio à obra de Câmara Cascudo, “Vida Breve de Auta de Souza”.

Relembrar a “DULCÍSSIMA”, implica em pintar-se

prioristicamente o cenário de sua curta existência. Palmilhar seus caminhos para viver suas emoções e descobri-la na paisagem social, no bulício da juventude, com os sonhos de donzela, prenhe de desejos humanos, espontâneos, comuns. Sentir sua poesia personalíssima, brotada de um acervo milenar, como água cristalina, nascida da fonte inegostável de seu lirismo.

Parece-nos tarefa muito difícil, interpretar um poeta desse naipe. Explicáveis podem ser os que constroem suas poesias, elaboradas em razão de técnicas, objetivando a consecução de projetos beletristas, onde a erudição se assemelha às máquinas frias e previamente programadas para realizar computações de palavras em combinações psicológicas, na maioria das vezes forçadas, grosseiras, pesadas e escassas da leveza própria do lirismo puro, nascido dos recônditos da alma.

O verso deve ser sentido na extensão de seu recado melódico, sintonizado às percepções do espírito. Por essa razão, confessamos nossa incapacidade para interpretar a obra desse Avatar da poesia ou explica - lá. Porém, vamos tentar seguir-lhe os passos para seguramente nos emocionar com sua melodia, mergulhando nos concertos cósmicos do lirismo aos quais nos enleva.

Do proscênio das notícias pesquisadas, emerge o cenário vivo que enredou o ambiente vivencial da pequena Auta. Neta do vaqueiro-rei Félix do Potengi Pequeno herdou da raça o dom da nostalgia e a têmpera dos que sabem sofrer, coração cheio de esperanças. Magra, pequenina, escura como o jambo, religiosa – filha de Maria - recatada e feminina; doce, meiga terna e sonhadora; olhos negros a derramar carícias pela natureza, amando o jasmineiro que plantou a petizada buliçosa, a família coesa.

Desde cedo, a flauta encantada do lirismo esboçou as primeiras melodias, derramadas em fluxo constante; espontâneas, harmoniosas, doces, românticas, no descanso da chácara do Arraial, na cidade do Recife, para onde fora com os avós e os quatro irmãos, após a morte de sua mãe, Da Henriqueta Leopoldina, usurpada do convivo da família, vitima da tuberculose.

Ali, naquele ambiente bucólico, entre árvores e arbustos, trepadeiras, roseiras e crótons variados, nasciam à exuberante força da criatividade poética daquela que se tornaria um poema vivo, mesmo menina, traquina e cheia de energia, distribuindo seus versos entre suas amigas.

O Mestre Cascudo pinta seu retrato com tintas firmes e graciosas, quando diz: “Gostava de conversar, meter-se nos diálogos de gente grande e também falava sozinha. Falar sozinha era o processo natural para povoar o ambiente, dando expressão, movimento, ação aos jarros de flores, canteiros de jasmins, árvores, trepadeiras, arbustos, bichos do chão, das paredes e dos ares. Além das bonecas de pano, de louça e de barro. Brincar de dona-de-casa. Cozinhando de boneca, com folha picada e água fria, servindo a refeição em caos de porcelana, papel por toalhado, na obrigação de “fazer-de-conta” que se come e elogios a quem fez o banquete. Vez por outra havia uma abstração invencível, ficar parada, mão no queixo, viajando sem sair do lugar, sonhando, como George Sand, em Nohnat, na paisagem verde do Berry”.

Aos sete anos, Auta já escrevia. Estudava rudimentos de francês e desenvolvia o vocabulário, quando nova tragédia abalou a família, vitimando o mano Irineu pelas chamas da explosão de um a família, vitimando o mano Irineu pelas chamas da explosão de um candeeiro de querosene. Continuara seu calvário de amarguras, iniciado com a morte de seus pais e recrudescido com a de seu irmão, no limiar de seus doze anos. Dez anos depois, sua tristeza era musicada num poema, retratando a dor daquele suplício:

“Mas... a gaiola vazia,

Que eu conservo noite e dia,

Não sabem? É o coração...

É dentro dele que mora,

É dentro dele que chora,

A alma de meu irmão!”

De 88 a 90 foi Alina e ganhadora de prêmios escolares no Colégio de São Vicente de Paula, na cidade do Recife, dirigido por professoras francesas. Curso regular e incompleto, interrompido pela tuberculose. Dedicou tanta estima as irmãs professoras que delas não se esqueceu nos créditos do “Horto”: “Às boas irmãs do Colégio da Estância o espírito, ofereço o que há e mais puro nestes singelos versos”.

Segundo seus biógrafos, a literatura infantil a fascinava, embalando os sonhos de menina. Entretanto, era a poesia que emoldurava os momentos de suas alegrias, ou se constituía refúgio nos instantes de mágoa.

Em 1890, Auta retorna a Princesa do Jundiaí. A tuberculose já a havia acometido e sua avó, Dindinha, transformara-se em anjo tutelar, redobrando cuidados e atenções, multiplicando esperanças.

Nesse período, Auta leu muito. Principalmente os franceses: Bossuet, Fenelon, Chateaubriand, Vitor Hugo e Lamartine.

Aos dezessete anos, iniciava seu fluxo perene de poesia. Apesar da doença, “Torna-se moça, airosa, morena, esculpida em póla de sapoti, “cheia de corpo”, graciosa, mais baixa do que alta, com uma voz inesquecível de doçura e musicalidade”, diz o Mestre Cascudo. Inicia uma série de contribuições para os periódicos da época que, coletadas e selecionadas, constituíram os originais de “Dhalias”.

Ao contrário do que se imaginava, Auta era alegre freqüentava festinhas domésticas e dançava quadrilhas e valsas.

No seu ultimo aniversário, setembro de 1900, dançou muito, tendo como par o então estudante, Luís Tavares de Lyra. Nessas festas, em cujos intervalos havia recitativos, as moças diziam seus poemas, tão ao gosto da época, e Auta, nessas ocasiões, fazia delirar quantos a escutasse, tamanho o

magnetismo que fluía de sua verve.

Cingida às prescrições médicas, limitou-se-lhe a liberdade de menina-moça. Passou a ler de tudo. Mergulhava fundo nos livros. Além dos franceses, dos quais se fascinara por Lamartine, lia com certa avidez o grande poeta de “Canção do Exílio” – o indianista Gonçalves Dias – e o irrequieto Luíz Murat, autor de “Ondas” e “Quatro Poemas”. Marco Aurélio, porém em “Pensamentos” parece ter contribuído consideravelmente para fortalecer sua tolerância e desenvolver-lhe o amor à natureza. Daí, conclui-se que para Auta, a dor foi um buril transformando em guia.

Críticos brasileiros da expressão de Nestor Victor, Olavo Bilac, Jackson de Figueiredo, Tristão de Athaíde, Arthur Pinto da Rocha, Agripino Grieco e Luíz da Câmara Cascudo dedicaram-lhe as mais justas considerações. Seu conterrâneo, o acadêmico José Melquíades de Macedo, professor, ensaísta e crítico literário, comparando-a com a festejada poeta de

Massachusetts, Emily Dickson, assim se referiu: “Essa (Emily), Auta jamais conheceu e nem de seus versos fez idéia alguma. Entretanto, coincidentemente,eram emocionalmente de imortalidade ou glória futura”. È a ratificação da tese de que a poesia de Auta era espontânea, gerada na fonte milenar de seus registros ancestrais, como precioso líquido cristalino e puro. Melquíades e Cascudo biografaram, emoldurando suas crônicas-biográficas com a emoção dos enamorados.

Jackson de Figueiredo edita um ensaio magistral sobre a poetisa macaibense, incluindo na Coleção Eduardo Prado – série C. O ensaísta questionava com desassombro a produção literária da mulher brasileira no campo da poesia, dizendo: “A mulher tem revelado na moderna da poesia, brasileira, na maioria absoluta dos casos dignos de nota, uma grande capacidade artística, uma excelente técnica de verso, a segurança mais perfeita de tudo quando é exterior ou, pelo menos, não intrínseco à poesia propriamente; mas é raro que a vejamos revelar uma verdadeira força poética, isto é, é raro que vejamos capaz de comover realmente, de agitar os melhores sentimentos do coração humano”. E prossegue dizendo: “Com raríssimas exceções, a poesia feminina, entre nós, tem mostrado sempre não ter do mundo outra concepção senão a rudimentar concepção que os sentimentos podem dar. Direi mais francamente: tem sido toda essa poesia, de modo mais frio ou mais arrebatado, puro sensualismo, pura embriaguez dos sentidos, gemido ou fria paixão, doloroso murmúrio ou gritos e brutais revoltas do instinto”.

Jackson não exigia da poesia uma linha objetiva de racionalidade ou expressão meramente didática, pois entendia que “a razão não é toda a alma”, mas “que é da alma que deve falar a verdadeira poesia”, sugerindo que ela deva brotar da pura imaginação e da vontade, como queria Long Haye, em Theorise dês Belle Lettres. Porém, o com muita proficiência asseverava que a psicologia dos mais talentosos poemas brasileiros não encontrava a segurança “na vida interior da sua poesia”. A boa obra poética, para ele, não podia prescindir da emoção verdadeira, fruto do “amor como força irradiante e profunda”, combinada a um objetivo superior para produzir emoções dignas da arte.

Assim, quanto à poética, Jackson de Figueiredo via em Auta uma alma cheia de harmonia, delicadeza e sutileza, simplicidade e misticismo, constituindo exceção ás assertivas às poetas brasileiras de sua contemporaneidade.O crítico Nestor Victor, dos mais expressivos, analisou a natureza e o temperamento da mulher poeta, para refleti-los na sua obra. Porém, não chegou a relacionar essa natureza a esse temperamento, para poder sentir as causas íntimas do mecanismo poético de nossa “enternecida cantora”. Fixa-se somente, no limiar de sua dor, quando aduz: “Ela nasce, por conseguinte, para ser o órgão natural do pranto dado a condição de mulher, naquele ninho de filhos sem pais”.

“Do livro de crônicas, editado em 1995 – Macaíba de Cada Um



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Do amigo Ciro Tavares sobre o poema Estrelas!

   Estimado Jansen: Sua poesia em resposta ao Madrigal e Bachiano é extremamente bela e honrosa. Sua sensibilidade de construtor de versos descortina o inatingível espaço sideral, onde, nós, poetas, em sonhos habitamos, submetidos à misericordiosa vontade do Criador, que nos ama acima de tudo , inspirando-nos no difícil ofício da poesia. Forte abraço do amigo Ciro José.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

MADRIGAL E BACHIANO


Ciro José Tavares


“Estranha é a coragem

que me dás, estrela amiga:

Brilha sozinha na aurora

para a qual nada representas!”

William Carlos Williams, in Hombre
Que o teu saudoso olhar não se fatigue

correndo atrás dos sonhos que no tempo,

dia após dia,morrem e são inalcançáveis.

Devolve teu olhar à luz e na estrela cadente matutina

viaja sob o sol para esquentar o coração.

Adormece teu melancólico olhar

nos verdes misturados aos azuis do oceano,

deixa que no sono orvalho abandone a noite

e venha cobrir de rosas e dálias vermelhas

teu esquecido vestido branco de organdi.


Estrelas!

Jansen Leiros

Como impressionam aos noturnos viajantes

quaisquer que sejam, então, seus mil e um quadrantes,

impulsionadores da coragem

ou mesmo das auroras, onde brilham.


E quanto aos olhos das estrelas que vislumbram

Os sonhos que navegam, noutros sonhos

Sonhando outros sonhos, que tamanhos,

Se volatizam nos Universos infinitos.


E, se enfocas a Luz das estrelas matutinas

Verás que todas elas se aglutinam

No grande sonho do Universo Infinito

Onde DEUS é o parâmetro infinito

Da LUZ que eclode do EU superior.

E, se "há verdes misturados aos azuis do infinito"

Esse amálgama nos conduz mais que contritos

à vitrine onde se guarda "o vestido branco de organdi"



quarta-feira, 14 de setembro de 2011

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos aos familiares de minha nora, Renata Lemos Leiros, que, por amor, generosidade, e muita harmonia familiar, promoveram belíssima homenagem à minha neta, Beatriz Lemos Leiros, para comemoração da mais bela data que pode vivenciar uma menina-moça: Seus quinze anos

A esses familiares minha gratidão, mesclada à eterna amizade com que sempre me envolveram.


Jansen Leiros



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

AOS TRABALHADORES DE ÚLTIMA HORA




O trabalho do Grupo dos 7 está se realizando, graças a DEUS, em harmonia. Uma equipe de mais ou menos vinte e um espíritos, detém o comando das tarefas que têm como atividade principal o socorro dos recem desencarnados, sua triagem e seu encaminhamento aos diversos "pronto-socorros" aqui existentes nas proximidades da crosta.
A Capelinha é como se fosse um Núcleo catalizador dessas atividades; para preencher os lugares dos que se ausentaram, (sem analisar méritos, pois "cada um dá o que tem, faz o que pode e recebe pelo que merece", substitutos estão sendo preparados e chegarão de forma espontânia para ajudar denodadamente
Nossa tarefa tem sido possibilitar a adequação vibratória do ambiente para a realização do trabalho de resgate, triagem e encaminhamento dessas entidades em processo de socorro.
Procedida essa limpeza e encaminhamento, vamos nos preparando para novas etapas de valoroso progresso no que pertine à preparação da "chegada de JESUS"
Não nos devemos inibir com a pequenês de nosso trabalho. O importante é que ele constitui um pingo d'água no oceano das realizações divinas que a nós coube e cabe realizar em prol do planeta e de sua humanidade transitória.
Após a chegada, tudo se acomodará e terá início a nova ERA de regeneração, mormente no que diz respeito à conscientização dos seres que aqui permanecerem, quer por mérito, quer pela misericórdia divina em razão dos pleitos de em benefício dos ainda frágeis, para a nova caminhada.
Alijadas as dificuldades iniciais, que são resultantes das absorções ainda grosseiras do acervo dos remanessentes, então todo vai-se harmonizando para a nova etapa.

Que DEUS ilumine a todos, Vespaziano

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

ESSE DIÁLOGO DATA DE 1661 e ultimamente sequentes governos do BRASIL têm posto em prática exatamente essa orientação de Mazarino.
DIÁLOGO ENTRE COLBERT E MAZARINO DURANTE O REINADO DE LUíS XIV

Colbert
 foi ministro de Estado e da economia do rei Luiz XIV.
Mazarino era cardeal e estadista italiano que serviu como primeiro ministro na França. Notável coleccionador de arte e jóias, particularmente diamantes, deixou por herança os "diamantes Mazarino" para Luís XIV em 1661, alguns dos quais permanecem na coleção do museu do Louvre em Paris.

O diálogo:
Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível.
Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão.
Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se...  Todos os Estados o fazem!
Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro.
E como é que havemos de o obter se já criamos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Sobre os ricos também não. Eles deixariam de gastar. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.


Colbert: Então como havemos de fazer?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: São os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável.
 
 

terça-feira, 30 de agosto de 2011

ACLA NO CEARÁ-MIRIM



O Ceará-Mirim ganhou na última quarta=-feira a sua Academia de Letras e Artes [ACLA], que nesse dia se instalou em sessão solene e deu posse aos seus primeiros 25 ocupantes. Há muito não se via, na cidade, acontecimento dessa dimensão, especialmente na área da cultura, sempre tão esquecida ou menosprezada pelos pilotos do estado, como diria Shakespeare. Só faltou mesmo a presença do prefeito, que ignorou solenemente o fato; sequer mandou representante ou um mero telegrama, como fazem as pessoas bem educadas no exercício de semelhante função.Idealizada por Pedro Simões Neto que, sem ser filho da terra, viveu parte de sua juventude lá, a ACLA surge cheia de boas intenções e projetos que, se consolidados, restituirão à cidade as suas glórias de um passado em que a cidade podia orgulhar-se de seus intelectuais, entre os quais, Madalena Antunes Pereira, Nilo Pereira, Edgar Barbosa, Rodolfo Garcia e Orlando Dantas, que se tornaram nomes de expressão nacional nas letras literárias e jornalísticas.
Fui com minha prima Maria Antonia, neta de Edgar Barbosa, um dos patronos da mais nova instituição do Rio Grande do Norte e lá tive o prazer de encontrar meus primos maternos e paternos, que lá vivem ou se deslocaram até Ceará-Mirim, para prestigiar esse acontecimento que já faz parte da História.
Planejara escrever sobre o notável acontecem um artigo mais minucioso, porém estou sem condições de fazê-lo, por causa de um derrame ocular. Limito-me a reproduzir a lista de Patronos e Acadêmicos, ou seja, de intelectuais do passado e do presente.

Ei-la:

PATRONOS/ACADÊMICOS

Cadeira n.1 – Nilo Pereira; Vaio César Cruz Azevedo

Cadeira n.2 – Edgar Barbosa; Cléa Bezerra de Melo

Cadeira n.3 – Juvenal Antunes; Paulo de Tarso

Cadeira n.4 – Maria Madalena Antunes Pereira; Lúcia Helena

Cadeira n.5 – Adelle de Oliveira; Ciro Tavares

Cadeira n.6 – Augusto Meira; Emmanuel Cavalcanti

Cadeira n.7 – Rodolfo Garcia; (Reservado para Roberto Furtado)

Cadeira n.8 – Júlio Magalhães de Sena; Gibson Machado

Cadeira n.9 – Inácio Meira Pires ; (Reservado para Múcio Vicente

Cadeira n.10 – Jayme Adour da Câmara

Cadeira n.11 – Padre Jorge O’Grady de Paiva; José de Anchieta Cavalvanti

Cadeira n.12 – Elviro Carrilho da Fonseca

Cadeira n.13 – Herculano Bandeira Melo;

Cadeira n.14 – José Emídio Rodrigues Galhardo; Janilson Dias de Oliveira

Cadeira n.15 – José Alcino Carneiro dos Anjos

Cadeira n.16 – Francisco Pereira Sobral;

Cadeira n.17 Etelvina Antunes Lemos; Sayonara Montenegro Rodrigues

Cadeira n.18 – Antonio Glicério;

Cadeira n.19 – Dolores Cavalcanti;

Cadeira n.20 – Francisco de Salles Meira e Sá; Pedro Simões

Cadeira n.21 – Anete Varela; Francisco de Assis Rodrigues

Cadeira n.22 – Rafael Fernandes Sobral; Franklin Marinho de Queiroz

Cadeira n.23 – José Pacheco Dantas; Leonor Soares

Cadeira n.24 – Manuel Fabrício de Souza (Amarildo)

Cadeira .25 – Bartolomeu Correia de Melo; Ormuz Barbalho Simonetti


SÓCIO HONORÁRO

Diógene da Cunha Lima


SÓCIOS BENEMÉRITOS

José Sanderson Deodato Fernandes de Negreiros

Carlos Roberto de Miranda Gomes

Eduardo Gosson

Jansen Leiros Ferreira


SÓCIO CORRESPONDENTES

Maria Conceição da Câmara (Ceicinha) – Portugal/Vila Bispo

Geraldo Pereira- Pernambuco/Recife

Hammilton de Sá Dantas – Brasília/DF



Jornalista- Franklim Jorge

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

JOSÉ JOAQUIM, UM CRISTÃO ANÔNIMO

(Do Livro Contos do Entardecer, Capítulo X, de Jansen Leiros – 1983)

Nas últimas décadas do século passado, em afastada cidade do sertão cearense, nascera José Joaquim. Sua mãe era modesta empregada doméstica da casa paroquial. Seu pai, o vigário João Marrecas, tio do grande taumaturgo do Juazeiro.
José Joaquim fora reconhecido pelo padre e logo que terminou o curso primário, foi mandado para a capital a fim de cursar o seminário. Com ele seguiu seu primo, algo mais moço, que se tornaria o foco das atenções do mundo religioso de nosso país, no início deste século, até a década de trinta.
Ao par de algum tempo, morrera seu pai e, como sua mãe não possuía recursos financeiros para custear seus estudos, José Joaquim retorna ao Cariri, sem haver sido ordenado padre secular, porém, tonsurado.
Era jovem ainda. Tornou-se professor de língua latina da pequena escola que lhe deixara o pai e assumiu as responsabilidades da família: sua mãe e uma tia octogenária.
José Joaquim era, na aparência, calmo e comedido. Estudioso e muito inteligente, dedicou-se à pesquisa histórica. Versátil, conhecia além do latim, o grego, o francês e o alemão, o que lhe proporcionava ler seus compêndios no original. Era grande sua inclinação para a filosofia. Leu Platão e Aristóteles, mas preferiu seguir as linhas filosóficas do cristianismo. Há entre os manuscritos que deixou, além das célebres cartas em defesa do padre do Juazeiro, alguns comentários sobre o pensamento filosófico de São Tomás de Aquino. Era profundamente sensível às coisas do espírito. Seu mundo mental era povoado de sonhos platônicos. Seu coração era terno e amoroso, atendendo aos necessitados da alma com um carinho imenso.
Amante da natureza, sua morada bucólica era um autêntico zoo-botânico. Criava quase uma centena de animais de vários tipos, controlava sua reprodução, planejava acasalamentos híbridos criando novas espécies, as quais costumava presentear a outros aficcionados. Chegou a elaborar um catálogo das variedades vegetais da região e cultivava plantas medicinais com as quais preparava medicamentos caseiros, para ministrar aos doentes pobres que atendia.
José Joaquim, a par de suas atividades docentes, dos trabalhos ligados ao seu mundo zoo-botânico, dos estudos de filosofia e religião que o empolgavam, costumava visitar famílias pobres, sondar-lhes as possibilidades, ajudando-as no que lhe era possível. Aqui, conduzia alguém para empregar-se nas fazendas de pecuaristas amigos; ali, estimulava atividades agrícolas, orientando e fornecendo sementes. Acolá, distribuía roupas usadas, conseguidas com famílias abastadas ou remédios para os casos mais graves, quando suas mezinhas não fossem aconselháveis.
José Joaquim era assim, caritativo, bom, amoroso, prestativo, humano, dócil e humilde. Porém, diante da injustiça, levantava-se o advogado tenaz e diligente, palavra fácil e incisiva, na defesa do justo. Era um apóstolo do Bem.
Sua vida, entretanto, de simples e despretenciosa não o projetou na medida se seus méritos e passou por ela quase no anonimato, não fora a defesa que assumiu e fez valer em favor de seu primo, o iluminado taumaturgo do Ceará.
José Joaquim, fora demasiado veemente nas cartas que dirigiu ao bispo, em defesa daquele que se tornaria um ídolo nacional, do que resultou, também, ser marginalizado pela igreja. Cristão convicto, José Joaquim não se incomodou com as acusações que recebera através da diocese, tão pouco declinou em qualquer dos pontos da defesa dos direitos de seu primo, a quem estava ligado por laços de profunda e sólida afinidade.
Os fatos atribuídos ao taumaturgo impressionaram de alguma forma ao professor José Joaquim, induzindo-o a fazer pesquisa e profundos estudos no campo da meta-psíquica e seus efeitos paranormais.
Conhecia toda a região, casa por casa e, com a gente do campo confundia-se pela identidade de costumes e pela capacidade de assimilação de que era possuidor. Com o vaqueiro, falava sua linguagem; com os agricultores, sobre a cultura que desenvolviam, orientando-os; com mecânicos, sobre os processos técnicos utilizados; com religiosos, envolvia-os em sentimentos de fé. Com crianças, tornava-se uma delas, brincava de rodas e cantava canções; contava-lhes histórias, nas quais os elucidava para a vida. Com os velhos, lhes inspirava coragem e confiança, amor pelos semelhantes e pela vida. Junto do pobre, era um permanente defensor de seus direitos; com os ricos, funcionava como mediador, moderando-lhes os arroubos egocêntricos, chamando-os à razão.
Contam que certo dia, José Joaquim tomou conhecimento de que vinham-lhe roubado algumas galinhas. Refletiu um pouco e foi até à despensa da casa. Encheu uma cesta de vime com uma pequena feira, fez um pacote de roupas usadas e escreveu um bilhete: - “Meu irmão noturno. Talvez você esteja precisando, também, de alguns mantimentos. Aí vão diversos. Fiz, ainda, um pacote de roupas usadas, mas que lhe servirão, estou certo, nas noites de frio. Se necessitar de outras aves, pode vir buscá-las. Eu as darei. Obrigado”.
Se o amigo do alheio leu o bilhete, não se sabe, mas levou a cesta e o pacote de roupas, e não voltou a roubar-lhes as galinhas.
De outra feita, quando descia pelo pátio da feira defrontou-se com um vendedor que transportava uns cinqüenta galos de campina, numa gaiola de palitos de coqueiro. Parou diante dele e perguntou o preço dos passarinhos, já com o porta-níqueis na mão. Informado do valor, entregou-lhe dois “patacões” e, ali mesmo, sob os olhares de espanto de quantos presenciavam a cena, soltou os passarinhos. Voltando-se para os circunstantes, falou com um sorriso: - Deus os criou livres. Quem somos nós para prendê-los? E continuou sua caminhada pela vereda da Sé.
Sua vida fora cheia de episódios assim, curiosos, mas que passaram desapercebidos pela sua absoluta simplicidade.
No princípio do século, José Joaquim começou ater visões que a ninguém revelava. Certa feita, quando se deitara, ouviu baterem à porta e foi atender. Eram doze horas da noite. Um homem de estatura mediana, magro, fisionomia lusitana, cabelos brancos, faces coradas e bastante simpático, lhe cumprimentou e, convidado, sentou-se à mesa, repleta de papéis e livros. Com ar sereno, voz pausada, mas firme, falou: - “Temos, entre nós, laços de profunda afetividade, solidificados pelo cadinho do tempo. Estivemos juntos em muitas ocasiões, desde o passado remoto. Juntos, precisamos empreender um trabalho, planejado quando ainda não havias descido ao corpo. Evidentemente, não iremos realizá-lo agora, todavia, precisamos ajustar sintonias, objetivando propiciá-lo no momento oportuno, enfocando os mecanismos da lei de causa e efeito, em execução através dos processos reencarnatórios. Hoje, serão ajustes nos circuitos endócrinos para obtenção de melhor sintonia através dos canais da epífise. Amanhã, a execução da tarefa pelos santificantes processos da inspiração medianímica, no entardecer do ciclo. Tua vida te creditou valores estimáveis. Ressarciste boa parte do teu carma, pelo teu comportamento equilibrado e sóbrio, amoroso e paciente, sensato e ilibado. Em razão de tudo isso, vimos te visitar, por oportuno, e te dizer que chegou o momento de iniciarmos o preparativos de uma nova etapa, quando serão executados nossos projetos. Após o desencarne terá um reconfortante e merecido descanso em colônia de repouso.
No entardecer do século, será o momento de executar a santificante tarefa, dentro dos planos aqui traçados. Todavia, para tanto, necessitamos de tua concordância, pois a lei da vida respeita o livre arbítrio do homem.
José Joaquim não podia conter as emoções daquela hora. Suas lágrimas umedeceram seus olhos e na firmeza de seu olhar, sentia-se a determinação do dever a cumprir. Naquele instante reconhecera o amigo de milênios a abraçou-o comovido.
José Joaquim despertou do transe. Na retina de sua mente, estava clara, muito clara a imagem de seu amigo espiritual.
Depois daquela visão, José Joaquim tornou-se taciturno, passava a maior parte dos dias meditando e orando. A lembrança daquele iluminado amigo o tornava nostálgico, mas feliz pela certeza de que estivera no caminho certo, praticando o “amai-vos uns aos outros”.
Algum tempo depois, no seu zoo-botânico, rodeado de uma natureza que ele próprio ajudou a criar, morrera José Joaquim, com um sorriso nos lábios. Ele já sonhava com o paraíso capelino, perdido na noite do tempo. Seu paraíso, agora, era o Universo de Deus.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

GABRIELA GUERREIRO

DE BRASÍLIA

Um grupo de senadores lançou nesta segunda-feira (15) uma frente suprapartidária de apoio à presidente Dilma Rousseff para o combate à corrupção no Executivo. Os parlamentares se revezam com discursos na tribuna da Casa em apoio à "limpeza" que Dilma promoveu no Ministério dos Transportes, afastando servidores suspeitos de envolvimento em irregularidades.
Depois que a Câmara paralisou os trabalhos em resposta à "faxina" da presidente, os senadores manifestaram apoio à ação de Dilma.
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O senador Pedro Simon (PMDB-RS), idealizador do movimento, pediu que o Congresso se una para permitir que o governo tome medidas anti-corrupção.
"Se, neste momento, nesta segunda-feira, 15 de agosto, um mês histórico, uma semana histórica, que invoca a renúncia do Jânio, a morte do Jango e a legalidade do Brizola, se nessa hora nós tivermos condições de fazer esse movimento, se o presidente Sarney tiver a grandeza de ser presidente do Congresso e os líderes tiverem um pouco mais de humildade, nós podemos iniciar o movimento."
O peemedebista cobrou que Dilma, além focar a "limpeza" nos Transportes, atinja outros partidos que ocupam cargos na Esplanada dos Ministérios.
"Claro que não pode a presidenta fazer apuração em cima do Partido Republicano, em cima do PMDB e não fazer no PT, fazer no PDT, até porque, lamentavelmente, com todo respeito, na composição do governo, nosso amigo Lula exagerou. É muito PT e muito pouco de outros partidos."
Além de Simon, outros senadores também cobraram de Dilma uma "faxina ampla" que abrigue todos os partidos aliados.
"A presidente tem que ter a consciência que a faxina tem de ser completa. Não pode deixar outros partidos, inclusive o meu, o PMDB, sem ser punido. Ela tem de punir. O combate não pode ser leviano", disse o senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE).
"Pelo menos aqui no Senado a presidente Dilma não vai ficar refém ou vítima de dificuldades. Eu apoio o movimento pela frente suprapartidária de combate a corrupção e impunidade", disse Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR).
O grupo classificou a segunda-feira de "cívica" pela decisão do Senado de reagir às denúncias de corrupção no governo.
Além de governistas, senadores da oposição também manifestaram apoio às medidas anti-corrupção.
"Vamos dizer à presidente que ela conte com uma base parlamentar de defesa, não de seu governo, mas de defesa do Brasil. Enquanto tiver corrupção no Brasil, qualquer governo não terá sucesso. A base parlamentar que deve ser constituída nesta Casa é uma base de defesa do Brasil", disse o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
FERNANDO, UM PRÍNCIPE SOLITÁRIO

(Do Livro Contos do Entardecer – Capítulo IX – de Jansen Leiros – 1983)

Os jardins do palácio estavam iluminados. Todos os lampiões acesos. Muitas carruagens estacionadas no pátio fronteiriço. O grande salão fora aberto para a festa de noivado de Joanna de Sevilha – filha natural do Rei e uma monja mauritana. Os convidados chegavam em belas carruagens e os jardins pareciam uma aquarela, tais os matizes das ricas toaletes. A alegria era contagiante.
O casamento de Joanna fazia parte do esquema político do Rei, que desejava conquistar toda a península, através dos casamentos de seus filhos – O Rei era pródigo em paternidade. Além de seus nove filhos legítimos, doze eram naturais e a todos assistia com o mesmo carinho paternal, malgrado os comentários maledicentes.
Nos portões da guarda, entretanto, não havia tanta euforia. Dois jovens cavalheiros conversavam algo contrariados. Eram Fernando e Eduardo. O primeiro, barão de Monte-Blanco – um dos filhos naturais do Rei e irmão germano da noiva. O segundo, duque da Mauritânia, sobrinho do Rei. Eles comandavam a guarda do palácio.
Naquela noite, O rei fora avisado de que grupos descontentes com aquele noivado, prometiam estragar a festa. Por essa razão, destacou o filho, então coronel da cavalaria real, para comandar o policiamento do palácio, juntamente com seu primo Eduardo, capitão da guarda, pelo senso de disciplina que possuíam. Essa determinação, entretanto, desagradou a Fernando, que alimentava esperanças de cortejar Isabel, condessa de Porto Saraiva, cuja família fora convidada para a cerimônia do noivado.
Mas, jovem de bom caráter e disciplinado, logo conformou-se com a missão que lhe fora confiada. Ele e Eduardo, então resolveram esgrimir um pouco, para esquecerem o sangue naquela noite fria. E os jardins transformaram-se em palco da belíssima demonstração de suas habilidades com florim.
Fernando era um belo rapaz. Longilíneo, tez morena, cabelos castanho-alourados, olhar muito vivo e penetrante. Personalidade forte, embora fino e educado, inteligente, simpático, insinuante e algo convencido – um autêntico cavalheiro. Perfeccionista por índole, mas diplomático no trato, tornou-se conselheiro do Rei para assuntos político-administrativos, o que lhe assegurou, mais tarde, a nomeação para o cargo de embaixador do reino em países vizinhos.
O que mais se admirava em sua personalidade era a capacidade de ouvir com serenidade qualquer interlocutor e, em seguida, quando lhe concediam a palavra, argüir com tal segurança que chagava a dominar as situações mais difíceis. Sua lucidez impressionava.
Sua beleza máscula tornara-o cobiçado pelos melhores partidos. Seu pai tinha planos para seu futuro, nos quais incluía um casamento com uma princesa italiana, para onde desejava estender os domínios de seu reino. Fernando, porém, somente alimentava sentimentos para a bela Isabelita – a condessa de olhos ternos. Seu amor era sincero e nenhuma outra mulher lhe havia prendido tanto a atenção. Isabel, todavia, não correspondia à sua corte.
Por outro lado, o pai da Isabel não via com bons olhos aquela inclinação de Fernando por sua filha, principalmente porque já a havia prometido ao duque da Áustria, Dom Felipe, troca de certos favores – o casamento beneficiaria à família da noiva. Em face disso, resolvera mandá-la para Castela, depois para Paris, onde residiam parentes seus, evitando que se fortalecessem os laços afetivos de Fernando e que Isabel não lhe resistisse à corte. A condessa viajou, retornando anos depois, casada.
Fernando, além dos óbices naturais que o problema lhe interpunha ao caminho, sentia-se pouco motivado para empreender uma luta pelos seus anseios, porque não estava seguro dos sentimentos de Isabel e ele sabia respeitar as opiniões oponentes com muita nobreza de caráter. Daí, envolveu-se em profunda depressão. Desejou partir para as terras de além-mar, há pouco descobertas. Seria um pioneiro.
O pai demoveu-lhe a idéia de partir, prometendo interceder junto ao pai de Isabel, mas foram debalde os esforços do Rei. Isabel desposara o duque da Áustria, o que valeu à família um título de nobreza – o grande sonho do velho burguês.
Fernando definhava. A vida, para ele, não tinha mais sentido. Suas noites eram povoadas de pesadelos e seus dia tão insípidos que o belo príncipe tornou-se taciturno e apático. Na verdade, Fernando jamais se ligara a ninguém. A vida lhe testaria na solidão, pois outrora abusara das ligações afetivas (essa intuição lhe surgia quase nítida na tela de sua mente). Ele se acabrunhava e sofria. O Rei, que o amava muito, também entristecera e se desdobrou em cuidados paternais.
Fernando isolou-se na mansão campestre da família de sua mãe, aliás, herança sua. Lá, dedicou-se aos estudos filosóficos, passando noite e dia a compulsar pesados compêndios e a corresponder-se com os mais conhecidos pensadores da época. Noutras ocasiões, perambulava pelos campos e cavernas das cercanias, selecionando e colhendo espécies vegetais ou caçando animais silvestres para domesticá-los. Certo dia recebeu a visita da Rainha, esposa de seu pai e a presenteou com um belo casal de faisão, de variedade rara, fruto de acasalamentos por ele controlados. A Rainha ficou tão agradecida que lhe retribuiu com belíssimas sedas, vindas do oriente.
A tristeza, porém, era companheira inseparável de Fernando. Dois anos depois havia definhado tanto, que fora removido quase sem forças para o palácio do Rei, onde veio a falecer. Morrera de tristeza. Toda a corte chorou o desaparecimento daquele jovem de rara beleza, de contagiante simpatia, que a conquistara definitivamente.
Seu espírito escreveu um giro espiral ascendente e, atravessando dimensões, chegou às margens de sereno lago astralino. Sentou-se calmamente na relva macia e olhou o céu. As lembranças desfilavam em sua mente espiritual, projetadas de um passado distante. Surgia-lhe imponente e colossal Capela, reinando em seu sistema, caminhando pelo Universo de Deus, como, um dia, caminhará nosso sol após o entardecer. Seguia-se o exílio: o antigo Egito, a Tessália, a Judéia, as costas da Guiné, as paisagens bucólicas da Península Ibérica, os escaldantes desertos da Arábia. Os acertos e desacertos de suas vidas. A soma de débitos contraídos. Os sofrimentos; suas revoltas; por fim alguns ressarcimentos pela dor. A dor que ensina e elucida as almas.
Sobre as águas tranqüilas do lago, levitavam três entidades luminosas em sua direção. Fernando, reconhecendo a estrela cintilante que se fazia guia e que chegara ali, ergueu-se e abraçou-a comovido. Em seguida, Mirim e Rachel o envolveram em carinhoso amplexo, felizes e radiantes.
Doce e ternamente, falou a Estrela Guia: ION, filho amado! Venceste mais uma etapa. Repudiado em razão dos laços de teu nascimento, com humildade e simpatia conquistaste os corações endurecidos que te aceitaram e te admiraram a personalidade. Foste testado na solidão e não te revoltaste. Foste ferido nos mais puros sentimentos e não te desesperaste. Foste belo e não abusaste da beleza. Foste senhor, mas não tiveste servos, fizeste amigos sinceros e fies que muito te amam. ION, Jesus te abençoa.









segunda-feira, 15 de agosto de 2011


MOHAMED. UM FILÓSOFO MULÇUMANO
                  (Do Livro Contos do Entardecer – Capítulo VIII – de Jansen Leiros – 1983)


As torres das mesquitas faziam contraste com o céu azul e límpido de Córdoba. O domínio muçulmano na península se consolidara e gerações árabe-ibéricas desenvolviam-se naquelas terras de sol quente. A bravura daquela gente marcou época.
Era o ano de 1126 de nossa era. Na mansão do cádi havia um movimento inusitado. Guardas e serviçais iam e vinham agitados nos preparativos de grande festa. Nascera, sob o signo de Peixes, o primogênito Mohammed-ibn-Walid.
Aquele nascimento fora esperado com muita ansiedade, pois o cádi ainda não tinha descendência, o que lhe criaria, no futuro, sérios embaraços à sucessão.
Mohammed era uma criança saudável, inteligente, masculinamente bela. Desde muito cedo demonstrou seus pendores para as artes, principalmente a música, tendo incursionado pelas artes plásticas
Na escola, demonstrou tendências para a matemática e para as ciências, colocando-se entre os mais aplicados. Inquieto e altivo, impunha-se entre os companheiros pela liderança nata de que era possuidor. Sua rapidez de raciocínio e a segurança dos conceitos esposados, sobre quaisquer assuntos, fizeram-no um jovem respeitado e admirado por todos, na velha Córdoba.

Na maioridade, inclinou-se pelos estudos filosóficos, principalmente as teorias de Aristóteles, de cujo sistema tornou-se notável comentarista, havendo publicado inúmeras obras nesse sentido. Amadurecendo suas idéias, chegou a ser influenciado pelo sistema neoplatônico.
Mohammed defendia a harmonia entre a razão e os conceitos religiosos, criando uma teoria que se denominou: da dupla verdade. Evidentemente, esse segmento de seu pensamento filosófico destoava daquilo que ele sentia no interior de seu espírito, mas, polêmico por impulso e de alguma forma orgulhoso de sua erudição, enveredou por caminhos difíceis por amor ao casuísmo, em dissonância com suas tendências interiores, o que, aliás, não chegou a causar-lhe maiores conflitos, tal a versatilidade de que era portador. A teoria da dupla verdade baseava-se na filosofia como forma racional da verdade, quando utilizadas pelas pessoas cultas; e a teoria religiosa como segmento metafórico da verdade, para os que não tivessem erudição. Em razão desses conceitos, Mohhammed suscitou sérias críticas dos filósofos do cristianismo, tendo como maior de seus opositores São Tomás de Aquino.
Sua vida transcorreu em atmosfera essencialmente intelectual. Em sua existência de setenta e dois anos, Mohammed produziu uma vintena de obras versando sobre filosofia, direito e matemática. Suas últimas obras, entretanto, tratavam de medicina, ciência que abraçou com muita dedicação após os quarenta anos de idade. Seus comentários filosóficos, todavia, o tornaram muito conhecido, pois serviram de embasamento aos estudos aristotélicos, da idade média ao renascimento.
O que o levou a dedicar-se aos estudos da medicina foi seu espírito de pesquisa, quase indomável. Amigo que era do Califa Mara-Yussuf, do Marrocos e havendo morrido seu médico particular, Mohammed, na ausência de um substituto que inspirasse a confiança do Califa, entregou-se de corpo e alma às pesquisas naquele campo, tornando-se, em pouco tempo, médico oficial do Califado.
Algum tempo depois foi nomeado cádi de Sevilha e em 1169, com a morte de seu pai, tornou-se cádi de Córdoba por direito hereditário, dinastia muçulmana que durou até a retomada da Península por Fernando de Aragão, o Rei-Católico.
Certa noite, quando a lua deitava seus raios prateados sobre a terra, Mohammed despertou em ambiente astralino e viu-se circundado por três ilustres personagens, vestidos à moda nazarena. Aquele que lhe pareceu mais categorizado, com profunda ternura, o saudou e disse: - ION amado! Quanta alegria. Enfim podes receber os galardões da vitória. Soubeste superar os óbices do caminho. Tiveste o poder e não abusaste dele; manipulaste a sabedoria, mas não se envaideceste a ponto de te prejudicar ou comprometer sua ascensão; enfrentaste dissabores políticos e não te revoltaste. Continua ION. Continua tua tarefa com a mesma disposição e confiança em Deus. Descansa esse final de experiência para, no futuro, iniciares novas etapas, quando Jesus te provará no amor ao próximo, na humildade, na paciência e na resignação, posto que restas ressarcir alguns compromissos do passado, ligados à tua vida afetiva. Deus te abençoe e a todos nós. Desapareceu.
Mohammed despertou daquele sonho com a maravilhosa sensação de paz; era como se regressasse do céu. Veio-lhe, daí, a lembrança nostálgica de um maravilhoso mundo distante e indefinido, perdido no tempo e no espaço, em dimensões alheias à sua percepção.
A neve tingiu de mansinho os cabelos de Mohammed. Ele envelhecera rodeado de pessoas amadas que o queriam com carinho e ternura. Sua presença era requisitada nas mais importantes reuniões da época e sua palavra, cheia de sabedoria e sensatez, era escutada com respeito.
Aos setenta e dois anos, desencarnou Mohammed com um sorriso nos lábios e cercado de luzes cintilantes.



O GUAPORÉ TEM JEITO!
                                   (Pedro Simões Neto)
A Casa grande do Engenho Guaporé, convertido em Museu Nilo Pereira, um dos cartões de visita de Ceará-Mirim, objeto do descaso e da depredação do seu acervo, tem jeito, segundo parecer informal da equipe técnica que a ACLA trouxe do Recife, depois das prospecções realizadas no próprio local.

Os três técnicos, Rozze Domingues e Carlos Ishigami (arquitetos) e Sandra Ishigami (res...tauradora e historiadora), que administram um projeto de restauração da arte sacra pernambucana, avaliado em 30 milhoes de reais, nos apresentaram até um esboço de anteprojeto que prevê a ampliação do sítio histórico, a criação de um "em torno" da casa, sem contar com obras de restauração da casa e da capela.

Detalhe curioso é que o Prefeito Antonio Peixoto, avisado pelo seu serviço de "inteligência", dirigiu-se ao local e lá foi entrevistado pelo arquiteto Carlos Ishigami que gravou todo o depoimento do chefe do executivo municipal.

A pergunta que não quer calar: sendo viável a restauração e o projeto de revitalização desse patrimônio, importantissimo para qualquer iniciativa turística no município, por que ninguém tomou a iniciativa para a sua concretização?

Com a palavra o responsável pelo tombamento e preservação - a Fundação José Augusto - e a Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim, vinculada à obrigação de manter o próprio do município.

Vamos prosseguir. Ainda este mês, os orgãos culturais de Macaíba e a ACLA vão pedir uma audiência com a Governadora e a Secretária da Cultura para negociação de alguns projetos de interesse comum, especialmente o do Guaporé, com uma nova formatação.

CEARÁ-MIRIM TEM JEITO. com inteligência, persistência e amor à terra.
 



QUEIRDOS COMPANHEIROS ACADÊMICOS, COMPANHEIOS DE ESTUDOS FILOSÓFICOS E MEUS CONSANGUÍNEOS, AOS QUAIS AMO MUITO E, POR FIM, AOS AMIGOS DO CORAÇÃO.

O PROJETO DIVIINO PARA A CRIAÇÃO DOS SERES HUMANMOS, EM TODA A EXTENÇÃO DOS UNIVERSOS, CONTEMPLOU O MECANISMO DE REPRODUÇÃO DOS SERES COM A PARTICIPAÇÃO DE UM ELEMENTO ATIVO (MASCULINO), UM FEMININO (PASSIVO) E UM TERCEIRO ELEMENTO, FRUTO DO MECANISMO REPRODUTOR. E ESTAVA CRIADA A TRINTADADE PARA TODOS OS SERES. DE FORMA GENÉRICA, HOMENS E ANIMAIS.
É BEM VERDADE QUE O PROCEDIMENTO REPRODUTIVO SE ESTENDE DE MUITAS OUTRAS FORMAS, PORÉM, UM ASPECTO QUE NOS PRENDE A ATENÇÃO É O PRINCÍPIO DOS SENTIMENTOS QUE PROMOVEM O LINK ENTRE "PROCRIADOR" E PROCRIADO", REPLETOS DE AMOR E PROTEÇÃO, QUER SEJA SOB A CARACTERÍSTICA DO INSTINTO ANIMAL, QUERE SEJA PELO DESENVOLVIMENTO DO "EU" ESPIRITUAL QUE ABRIGA ESSES SERES.
A HOMENAGEM AO " P A I ", VIA DE CONSEQÜÊNCIA, É BASICAMENTE UMA HOMENAGEM AO CRIADOR DO UNIVERSO QUE NOS FEZ À SUA IMAGEM E SEMELHANÇA.
AOS PAIS DO UNIVERSO, O PREITO DE AMOR À CRIAÇÃO.

Jansen Leiros





sexta-feira, 12 de agosto de 2011


BENEDITO, UM TERRÍVEL LENHADOR

(Do Livro Contos do Entardecer – Capítulo VII – de Jansen Leiros – 1983)

A paisagem era bucólica. Entre duas colinas, serpenteava um rio de águas mansas, refletindo o raiar do sol que nascia.
Benedito subia o caminho da colina, o passo firma em direção à cabana tosca situada no cimo, ponto central de uma clareira aberta na floresta de cedros.
Naquela época do ano, a temperatura era agradável e as noites frescas e tranqüilas. Ele voltava de um banho reconfortante. Forte, espadaúdo, musculoso até, sua pele era alvo-rosada e seus cabelos, negros como o dos povos ibéricos.
Descendente de família pobre, isolada do convívio social pela natureza da ocupação laboral, Benedito não conhecera os bancos escolares, nem fora conduzido ao catecismo. Era rude. Sua alma, todavia, refletia de quando em vez, a lucidez dos sábios.
Ainda muito jovem, costumava sentar-se aos finais de tarde nas pedras da colina, para apreciar o pôr-do-sol e pensar na vida. Trabalhava muito e suas mãos calejadas diziam da dureza do seu empenho.
Uma vez por ano, a família de Benedito descia à aldeia mais próxima para os festejos do Natal. Numa dessas raras ocasiões, quando já contava dezoito anos, foi sua família convidada para a festa de um aniversário. Colocaram as melhores roupas e já se foi ele, ansioso por viver uma experiência nova. Nunca participara de um baile. Apesar de a festa se realizar na aldeia, os anfitriões convidaram autoridades e alguns aristocratas da zona rural que, por interesses políticos atendiam a esses convites.
A festa estava maravilhosa. Benedito não se continha de feliz, quando à sua frente surgiu encantadora donzela. Filha de pais de descendência francesa, Mônica era refinada e fidalga.
Apesar de sua condição, pelo porte, impressionou à mocinha de olhos ternos e, durante a festa, trocaram sorrisos enamorados. E seria tudo um mar de rosas se a gentil senhorita não fosse vítima do condestável e Benedito um mero lenhador. Mal perceberam as trocas de olhares, a linda criança foi-lhe arrebatada à visão enternecida.
Esse fato, de princípio, não afetou tanto a Benedito, que sabia impossível alcançar aquela graça; mas, na solidão da mata e no triste entardecer, sua alma explodia de revolta por ser pobre e lenhador.
Certa feita, quando descansava na colina, sentiu-se levitar pelas relvas; vestia finas roupas e parecia um cavalheiro da mais tradicional nobreza. Do topo da colina ele viu Mônica que descia flutuando, vestido branco esvoaçante a descrever divina coreografia. Abraçaram-se e trocaram carícias enlevadas por tempo que não conseguiu registrar no cronômetro do coração. De repente, porém, corcéis fogosos surgiram de todas as partes e Mônica foi-lhe arrebatada dos braços do pai enfurecido, drástico que era no cumprimento de suas normas éticas. Acordou.
A revolta crescia a cada instante. Benedito não se conformava com a sorte, não aceitava a pobreza, repudiava a família e culminou por repudiar o pai – por ter sido o veículo de seu nascimento.
Anos se passaram, ele se tornou cada vez mais fechado em si mesmo. Profundamente revoltado, transformou-se em perigoso elemento, agressivo e desorientado. Não podia aceitar a felicidade de quem quer que fosse e todo aquele que a desfrutasse ao seu redor, tornava-se alvo de sua inveja e de seu ódio, quase avassaladores.
A vida transcorria normal nos parâmetros limitados de sua família, embora a presença de Benedito fosse sempre um estorvo, pelo ambiente de tensão que o mesmo provocava.
Com o tempo, tornou-se de profundo mutismo. E, nas raras vezes que participava das conversações familiares, era para explodir em terríveis manifestações e agressividade.
A choupana parecia não resistir às intempéries do inverno. A neve pintava de branco os campos verdes e pousava pesadamente no telhado lodacento. Sentada à frente da rústica lareira, uma senhora esquentava um chá. Seu rosto estava contraído e de seus olhos se podia ver o cintilar do ódio. Ódio pela vida, ódio do mundo. Ódio de todos. A tensão fulminou-o. Morreu de revolta o temível lenhador.
Ainda tonto pelo desencarne, Benedito, jazia ao lado do corpo em decomposição. Alma abençoada, entretanto, dele se aproximou a ultimou o desligamento, cortando-lhe o cordão prateado que o prendia ao plexo solar, libertando-lhe o perespírito. Colocaram-no numa maca muito alva e levaram-no. Num ambiente que parecia um ponto aduaneiro, sob suave luz braço-prateada, um ser quase divino dele se aproximou e ouviu-se com ternura: - ION! ION! Por que te revoltaste tanto? Por que não soubeste aproveitar a grande oportunidade da prova concedida? Perdeste mais uma etapa. Contraíste novos débitos que se somaram com os do passado.
Benedito abriu os olhos e, como a reconhecer a alma amiga que lhe falava com doçura, prorrompeu um convulso pranto: - Deus meu! Sou um miserável. Por que não abri os olhos às lições da vida? Por que meu Deus?
E desmaiou pesadamente.