terça-feira, 13 de janeiro de 2009


QUANDO O VENTO DENUNCIA
(crônica)


Manoel d’Oliveira, chegado das bandas do Aracatí, no Ceará, instalou-se em Mossoró, no início dos anos vinte, no século passado, para comerciar com tecidos.
Começou como mascate, levando sua mercadoria no lombo de burros e antes dos anos quarenta já estava estabelecido com uma loja que crescera com a capital do oeste norte rio-grandense.
Manoel deveria ter algo como vinte anos quando chegou a Mossoró e, comerciante nato, logo foi fazendo sua freguesia, nas fazendas e nos sítios das cercanias da cidade. Falastrão e simpático, logo formara um ciclo de boas amizades.
Nos finais de semana, Manoel saia à procura dos bailes, nos quais esbanjava vitalidade.
Nos anos sessenta, conhecera Maria das Neves, nascida em Apodi, com a qual casou e com ela tivera cinco filhos.
Após instalar-se na loja, Manoel desenvolveu seu comércio e em pouco tempo tornou-se um dos mais prósperos comerciantes do local.
Com excelente visão, Manoel foi-se equipando e sua loja passou a ser visitada por quase todos da cidade.
Fez reformas, instalou geladeira, fez novos balcões, novos mostruários e mandou construir um dos primeiros gabinetes gerenciais da região, instalando, ali, um dos primeiros aparelhos de ar condicionado.
Nos anos setenta, Manoel tinha um corpo de empregados de nove bons vendedores e tudo cheirava a progresso.
Com esse “status”, Manoel passou a fumar charutos cubanos e a beber conhaque, da melhor qualidade, importado da Europa, do qual sorvia umas três doses diárias, sempre antes das refeições. Em seu gabinete, havia um armário, modelo “chipandalli” no qual ele guardava seu conhaque. E, religiosamente, Manoel tomava duas doses antes das refeições.
Manoel, também, adquiriu o hábito de visitar os comerciantes visinhos, com os quais fizera boa amizade, deixando sua loja sob a responsabilidade dos vendedores.
Certo dia, Manoel percebeu que seu conhaque estava diminuindo mais do que ele imaginava ter consumido e passou a observar seu consumo, riscando o rótulo, de forma discreta, para aferir no próximo gole.
Não tardou muito e Manoel chegou à conclusão de que havia um, ou mais sócios do seu conhaque.
Pensou, pensou e decidiu. Dia seguinte, atravessou a rua e foi até a loja fronteiriça à sua e ficou discretamente observando o movimento. De repente, viu determinado empregado abrir seu gabinete, identificou-o e, após uns cinco minutos, retornou à loja.
Entrou no gabinete e fingiu levantar alguns livros velhos, meio empoeirados e logo em seguida chamou um dos empregados: Henrique! Por favor! Acho que entrou algum cisco em meu olho. Sopra aqui, por favor!
Apanhado de surpresa, Henrique falou: “Ah. Seu Manoel! Hoje tô tão sem vento!"
É, Henrique, eis ai quando o vento denuncia. Seu beberrão!

Jansen dos Leiros
Advogado e escritor

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