sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


O ESMERO DA NATUREZA

Às vezes, me flagro embevecido com a beleza de uma flor. Suponho que seu perfume me embriaga e não é raro sentir-me flutuando nos mares da imaginação, construindo jardins de mil variedades de cores e estilos, entre as quais me volatizo.
Ontem, ao regar minhas plantas, deparei-me com uma orquídea florescendo, portando dois viçosos botões, iniciando seu desabrochar. Era uma Cattleya labiata, espécie que enfeita nossos orquidários com as suas flores fascinantes, entre dendróbiuns, phaleonóposis, catasetuns, cyrtopodiuns, cymbidiuns, brassávolas cucullata, laélias pupurata, miltônias e as incomparáveis vandas.
Nesses momentos, sentimo-nos como se fôssemos envolvidos com um halo de energia sutil, dando-nos a sensação de que estamos flutuando no próprio perfume que se esparge de seus labelos, envolvendo pétalas e sépalas..
Mas, o que é a beleza? Como defini-la? Como senti-la? Como conviver com ela? Como devemos reagir diante dela? Enfim, há uma série de questionamentos a serem formulados diante da beleza.
Certa vez, envolvido por sentimentos inspirados por uma tela de raríssimo primor, no Museu do Prado, em Madrid, fui buscar nos compêndios disponíveis, alguma definição para apascentar minha emoção e li o seguinte: “A beleza é uma percepção individual caracterizada normalmente pelo que é agradável aos sentidos”. A definição pareceu-nos tecnicamente certa, correta, porém, seu enunciado soou-nos sem musicalidade, sem sal, sem perfume, sem odor. Qualifiquei-a despida de espiritualidade, da vibração de amor, da envoltura áurica que a beleza nos inspira. Depois dalí, busquei outras, compulsando inúmeros compêndios, mas percebi que a beleza não pode ser, pura e simplesmente, verbalizada, mas principalmente sentida e, aí, entendi que esse sentir tem a exata dimensão dos sentimentos daqueles que a estão percebendo. A beleza está envolta num manto de subjetividade e as definições são quase sempre muito pobres para nos transmitir a magnitude dos sentimentos que a beleza nos transmite.
Na verdade, a natureza é pródiga em distribuir beleza por todos os recantos do universo. Se olharmos para o infinito nos impactamos com a beleza de sua imensidão; se olharmos as estrelas, percebemos que elas se tornam adereços dos céus. Se olharmos para as aves, na riqueza de suas cores, dos desenhos de suas plumas, na suavidade de seus gorjeios, em tudo isso encontramos a beleza construída pela natureza, que nos abriga e nos envolve. Há animais, cuidadosamente decorados pela natureza, como as zebras, os leopardos, os tigres, cavalos das mais variadas raças, principalmente os árabes, os apaloosas, os persas, os cães dálmatas, enfim, uma variedade incontável de animais que adornam este planeta, caprichosamente maquiados pela natureza.
Faz alguns anos, vi nos jardins do Castelo de São Jorge, em Lisboa, uns pavões brancos e perguntei ao encarregado que aves eram aquelas e de onde provinham. O senhor a quem formulei a pergunta, me respondeu gentilmente, com sotaque lusitano, que eram pavões nascidos ali mesmo, no castelo, e eram resultado de uma mutação, provinda do pavão azul. Imaginei que teria sido um processo de albinismo, porém percebi que eles tinham os olhos negros, a mucosa em torno do bico, também, as pernas de igual forma, enfim, não eram resultado de albinismo. Havia sido, sem dúvidas, uma perda do pigmento melânico na plumagem, decorrente de algum processo genético, para mim desconhecido.
Como o sol já caminhava para o ocaso, prometi a mim mesmo voltar no dia seguinte para conhecer o restante do castelo e ver melhor aquelas aves de alvura encantadora. No dia seguinte tive uma feliz surpresa de ver dois machos fazendo a corte a uma fêmea e percebi, graças à postura do sol, que os desenhos existentes nos pavões comuns, também existiam nos pavões brancos, projetados pela luz solar, onde víamos diferenciados os desenhos pelas tonalidades branco gelo, contrapostas na tonalidade branco neve. Fiquei embevecido. Pois bem amigos, há enésimas coisas que poderiam ser citadas para evidenciar a beleza, trabalhada pela natureza, inclusive a do ser humano, em sua diversidade de raças e tipos, espalhados pela superfície de nosso planeta.
Contemplando-as, concluímos que a Natureza, de fato, se esmera na construção da beleza, ratificando a presença de DEUS, na essência da vida de tudo.

Jansen dos Leiros

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