quinta-feira, 4 de dezembro de 2008


Valores que suplantam
(crônica)

Certa vez, antigo funcionário de uma empresa urbana, deixava-se aos colegas de que, apesar dos quase quatorze anos de empresa, ganhava pequeno salário e não lhe era concedido o tratamento que supunha merecer.
Esse comentário espalhou-se pela empresa e, certa vez, o Diretor Executivo mandou chamá-lo e, sem tecer maiores comentários, solicitou que ele fosse ao comércio para procurar determinada peça cujas especificações lhe passara em pequeno cartão pautado, com o fim colocá-la em certa máquina do setor produtivo e, como era urgente, que lhe desse essa informação o mais rápido possível.
Duas horas depois, o empregado retornou, informando que a peça não existia e que havia procurado em duas das mais importantes casas do mercado.
O Diretor perguntou-lhe se havia indagado sobre o preço da peça e ele respondera que não havia perguntado, uma vez que ela não existia no estoque, e, assim, não achou que seria importante saber o preço de uma mercadoria inexistente. O Diretor agradeceu e solicitou que ele pedisse a outro funcionário, do qual mencionou o nome, a fim de que ele viesse ao seu gabinete.
Dez minutos depois, chegara o funcionário convocado e o chefe lhe pedira a mesma coisa que solicitara ao anterior.
Meia hora depois, retornava o segundo empregado e lhe transmitira o seguinte: Senhor! Fui a cinco casas do ramo e não encontrei a peça solicitada, porém, fui informado de que duas das casas têm pedido feito da referida peça e que dentro de cinco dias devem estar chegando. Soube, também, que a peça custará por volta de R$ 90,00 (noventa reais) a unidade e que seu modelo é adaptável à nossa máquina, cujas especificações o senhor me entregou. Aproveitei o ensejo e solicitei que fizessem reserva de duas peças, pois imaginei que seria de bom alvitre termos uma de reserva e pedi que me dessem um documento de garantia do preço, o qual lhe trouxe.
O Diretor agradeceu e pediu que o funcionário permanecesse no gabinete e mandou chamar o anterior.
Sozinho com os dois empregados e sem testemunhas, o Diretor perguntou ao primeiro. Sr. Fulano, quantos anos o senhor tem de empresa? Ao que o empregado respondeu: aproximadamente quatorze anos. E quanto o senhor ganha? Dois salários mínimos, respondeu. Muito bem! E o senhor, - perguntou ao outro - quantos anos de empresa tem? Dois anos, senhor! Qual a sua função? Operador de máquinas. Quanto o senhor ganha? Cinco salários mínimos, senhor! E, olhando para os dois, agradeceu as presenças e continuou a trabalhar.
De fato, o primeiro empregado, apesar dos quatorze anos na função de operador de maquinas, jamais se esforçou para vestir a camisa da empresa. Não demonstrara qualificação e não conseguia apresentar interesse para o que fazia. Não possuía nenhuma criatividade, nem lutava pelos interesses da empresa. Tais atitudes eram vistas e anotadas pela direção.
Na verdade, o Diretor Executivo daquela empresa que já conhecia o comportamento dos dois empregados, esperou uma oportunidade para mostrar a ambos o porquê do tratamento diferenciado e as chances do segundo para crescer na empresa e a permanência do primeiro em estado quase latente.

Jansen dos Leiros
Advogado, articulista e escritor

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