A PARÁBOLA DOS TALENTOS
Pergunta: Em Mateus 25:14-30, é apresentada a parábola dos talentos. Logo em seguida, no mesmo capítulo, versículos 31-46, é apresentado o julgamento geral. Pergunto: qual a relação entre a parábola dos talentos e a chegada do Mestre Jesus, para o julgamento geral?
Jan Val Ellam: A parábola dos talentos pouco tem sido compreendida ao longo dos séculos. De fato, estranhamente, tem uma singular relação com o que se chama de juízo final ou julgamento geral, o que torna a pergunta muito interessante, mas, curiosamente e apesar disso, apresentada com pouca freqüência. É possível até que, nesses quase 20 anos de estudos, essa questão jamais tenha sido levantada. Mas, o que é a parábola dos talentos?
Jesus, em certa oportunidade, tentando ensinar ao povo através de uma história simples, como sempre fazia, disse que um determinado homem de posses ia viajar. Por isso, chamou os seus servos e resolveu entregar a eles as suas posses, a cada um segundo sua capacidade, dizendo que, quando retornasse, queria que lhe fossem prestadas contas daquilo que ele deixara. Chamou o primeiro servo e disse: “Aqui tens cinco talentos”. Com o segundo deixou dois talentos, e com o terceiro, um.
Viajou e quando retornou chamou o servo com quem deixara os cinco talentos e lhe perguntou o que havia feito deles. O servo respondeu: “Aqui estão os cinco talentos que me destes e mais cinco que conquistei com meu esforço”. O senhor lhe disse: “Servo bom e fiel, no muito serás comigo”, ou seja, eu te darei mais ainda.
Aquele que havia recebido dois talentos chegou e disse: “Mestre, aqui estão os teus dois talentos e aqui estão mais dois, conseguidos com o meu esforço”. O senhor lhe disse a mesma coisa: “Servo bom e fiel, regozijarás comigo também no muito, mais ainda te darei”.
Aquele, porém, que recebera um talento chegou para o mestre e disse: “Aqui está o talento que me destes, escondi-o para devolvê-lo na volta”. Estranhamente, o senhor critica a postura desse servo, dizendo que, na hora da prestação de contas, “até o pouco que alguns têm será tirado, e a quem muito tem muito mais ainda será dado”.
O que significa essa mensagem? O que isso tem ver com o julgamento geral? Os espíritos dizem que isso somente pode ser compreendido através da doutrina da reencarnação.
Às vezes nascemos na vida com os talentos da beleza física, da oratória, da riqueza material, do tempo disponível, e o que fazemos desses talentos?
Às vezes alguém chega e pede que consigamos um emprego para uma terceira pessoa. Então raciocinamos assim: eu não vou pedir esse emprego, porque vou terminar empenhando o meu nome, e se essa pessoa não se sair bem, eu vou-me “dar mal”. E decido não utilizar o meu prestigio social para ajudar essa pessoa.
Talvez eu tenha tempo disponível, mas gasto todo ele em coisas não muito úteis tais como ver novelas na televisão, e nunca tenho tempo para ajudar ou escutar alguém.
Sou talvez muito bonito e uso a minha beleza física apenas para as conquistas no campo da natureza animal, e provoco infelicidade nas pessoas que conquisto.
Com o meu talento de oratória desvio caminhos, semeio inquietações e ilusões.
Uma pessoa que agir dessa forma não multiplicará os talentos recebidos numa determinada vida. Para que ela possa aprender a valorizar o talento da beleza física, da oratória, da riqueza material e o tempo disponível, até esse pouco que lhe foi dado será tirado, pois, em suas próximas vidas, essa pessoa nascerá sem beleza física, pobre, tendo que lutar a cada segundo da existência por um emprego que lhe possa dar o suporte material e precisando desesperadamente da ajuda de outros. Se os outros agirem como essa pessoa agiu numa vida passada, quando tinha prestígio e tempo disponível, ela não será ajudada.
A cada encarnação, cada um recebe sua cota de possibilidades, de acordo com um fator resultante dos seus méritos e deméritos espirituais. Assim, durante a vida, em nome do progresso moral e espiritual em que necessariamente deveríamos nos empenhar, a providência divina possibilita certas situações de aprendizagem dos sentimentos de bonança, fraternidade e amor, nos contextos em que estivermos inseridos – nossa família, o ambiente de trabalho ou outros.
Quando nos utilizamos das “facilidades e potencialidades” dadas pela vida – a exemplo de alguém que ocupa funções importantes no âmbito maior – para servir ao próximo, mais e mais a natureza vai nos provendo tanto nesta vida, como nas futuras. O Pai Celestial nos dará muito mais, porque quantos mais talentos uma pessoa como essa tiver, mais riqueza ela distribuirá com aquelas pessoas que estão ao seu redor.
Mas quem recebe talentos na vida e não os multiplica, guardando-os para si mesmo de forma egoísta e falsamente prudente, termina por tê-los retirados de si, para que possa valorizar o esforço pessoal e aprender a se sensibilizar com a desgraça alheia e a se pôr em risco para ajudar.
Os espíritos dizem que teria sido nesse sentido que Jesus ensinou na parábola dos talentos. É imperioso observar que, sob essa mesma ótica, o julgamento geral, o juízo final, a separação do joio e do trigo ou o julgamento dos vivos e dos mortos são quatro conceitos que dizem a mesmíssima coisa.
É importante observar que a própria doutrina espírita esclarece que, de tempos em tempos, qualquer orbe no cosmo passa por reciclagens espirituais, quando mais da metade da população planetária já atingiu um certo grau de evolução, mas ainda existe uma minoria empedernida apresentando comportamento diverso, e impedindo o progresso daquele mundo. Para que ele evolua é necessário que ocorra essa reciclagem espiritual, na qual as individualidades ainda equivocadas são convidadas a se retirarem do ambiente, para que o planeta possa progredir. Essas individualidades são exiladas, expulsas daquele mundo para outro, onde lograrão aprender o que naquele primeiro não conseguiram, a exemplo de uma classe de 50 alunos, 35 esforçados para aprender e 15 que simplesmente “bagunçam” o tempo todo, impedindo o aprendizado dos primeiros. O professor avisa que no fim do ano as médias serão conseqüentes ao esforço e desempenho de cada um, e que aqueles que não atingirem a nota mínima não conseguirão ser aprovados e serão “convidados” a fazer o curso de recuperação em outra escola.
Assim, pelo que informa a espiritualidade, há cerca de 600 mil anos começou uma espécie de “ano letivo” para as almas que encarnam ciclicamente na Terra e agora esse “ano” está terminando.
Quando Jesus falava da “geração de espíritos que vivem na Terra”, Ele se referia à população de almas que reencarnam ciclicamente e lotam esse mundo desde 600 mil anos atrás. Todas elas se caracterizam por um comportamento – perderam a habilidade de amar, tornaram-se incapazes de amar. As almas que vieram exiladas para cá e ainda estão aqui até hoje – ou seja, nós – foram contaminadas com essa “doença”. Com isso, perdemos a simplicidade necessária para expressar a ternura, a fraternidade e o amor que, em tese, deveríamos sentir uns pelos outros. Esse é o nosso grande problema.
Em não amando, ficamos doentes e nos tornamos complexos e perigosos, descumprindo as regras das sociedades cósmicas. Por isso, fomos alojados neste mundo, a exemplo de alguém que na sociedade dos homens infringe as leis e agride, mata ou rouba. Esse criminoso tem que ficar numa penitenciária durante certo tempo, até que purgue sua pena ou apresente um novo comportamento que lhe permita ser aceito pela sociedade. Somente após o pagamento da pena, apresentando a condição de ser reintegrado à sociedade, esse individuo é solto.
É sob essa ótica que todos nós estamos neste mundo, acreditemos ou não em Deus, percebamos ou não o processo da reencarnação. Fato é que estamos pagando as mesmíssimas matérias ao longo das vidas, recebendo cotas de talentos para multiplicá-los e poder ir adiante.
O Pai Celestial, na sua infinita bondade, misericórdia e justiça, proporciona a cada ser terreno todas as condições para que, ao final do “ano letivo”, todos tenham tido as mesmíssimas oportunidades, o mesmo grau de dificuldade. É sob essa premissa que os espíritos afirmam que estamos chegando na atualidade aos últimos dias desse processo e que o tal julgamento geral já está em curso, só que nos ambientes espirituais, pois que, a partir do ano de 2.050, somente reencarnarão na Terra espíritos tendentes ao bem, mesmo que ainda muito imperfeitos.
Então, se assim é, esses espíritos tendentes ao bem nada mais são do que aqueles que multiplicaram os talentos recebidos nas muitas vidas, em benefício próprio ou das pessoas da comunidade em que estavam inseridos. Aqueles que, infelizmente, após terem tido as mesmas oportunidades reencarnatórias, não conseguiram a tal nota mínima de tendência ao bem e perturbam o progresso da Terra, dela sairão.
Como visto, a parábola dos talentos tem tudo a ver com o julgamento geral, como perguntado pelo nosso irmão Luiz.
Jan Val Ellam.
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